Militar, que foi condenado a dois meses de prisão, queria trabalhar mas superior hierárquico quis ficar no carro a dormir.
Um militar da GNR, agora em Mirandela, foi condenado a dois meses de prisão, pena substituída por 60 dias de multa à taxa diária de sete euros, por abandonar o comandante numa patrulha quanto exercia funções em Valpaços.
Segundo a acusação a que a Agência Lusa teve acesso, nesta quarta-feira, o arguido, de 43 anos, estava escalado para o serviço de patrulha às ocorrências do dia 26 de março de 2009, entre as 01:00 e as 09:00, por troca acordada com outro militar.
A chefiar a patrulha estava, na qualidade de comandante, um cabo.
«Pelas 04:00, junto à zona industrial de Valpaços, em pleno patrulhamento, o arguido, por sua iniciativa, livre e conscientemente, abandonou estas suas funções, saindo da viatura, não mais a ela regressando e dirigiu-se, sem para tal ter qualquer motivo legítimo, para o posto», lê-se.
A acusação realça que o militar «bem sabia» não poder abandonar a patrulha, porque colocava em causa a prontidão operacional necessária ao patrulhamento.
Por seu lado, a defesa revela que, depois de darem uma volta pela cidade, o comandante da patrulha, superior hierárquico, pediu ao militar, que conduzia a viatura, para irem até à central de camionagem e estacionar.
Entretanto, explica, o comandante «deitou o banco e cerrou os olhos».
O arguido insistiu duas vezes para continuarem a patrulha e, à terceira vez, o comandante disse: «se queres policiar vai tu, deixa-me em paz.»
O militar saiu da viatura, foi até ao posto a pé e deu conhecimento da situação ao atendimento, que substituía o comando de posto, e continuou o patrulhamento com outra viatura.
«Cerca das 07:00, e como já estavam a chegar os motoristas dos autocarros, o arguido dirigiu-se ao posto e alertou o atendimento para que fosse ele a chamar/acordar o comandante», afiança.
Minutos depois, salientou, o comandante compareceu no posto e continuaram a patrulha juntos até à hora de saída.
O advogado, António Ribeiro Barbosa, afirmou à Lusa que o militar foi condenado por trabalhar ou querer trabalhar, pelo que vai recorrer da sentença.
A queixa, revelou, foi motivada por uma denúncia anónima que deu origem a um processo disciplinar, anulado duas vezes por determinação do Comando Geral da GNR.
Mas, acrescentou, na última vez entenderam que o comportamento do militar podia configurar um crime e seguiu-se o processo judicial.
O Ministério público (MP), explicou o causídico, pediu a absolvição do arguido, mas, «estranhamente», foi condenado porque o juiz entendeu que devia ficar no carro a acompanhar o «superior dorminhoco».
«O que ficou a dormir não teve consequências e o que foi trabalhar foi condenado e, por causa disto, não pode subir de categoria», disse.